Um casal que monitorava o céu em busca de nuvens em funil registrou, por acaso, uma esfera brilhante movendo-se lentamente sobre um campo na zona rural de Alberta, no Canadá. O episódio, filmado às 7h, reacendeu o debate científico sobre a natureza dos chamados raios globulares.
Registro em Alberta intriga pesquisadores
Ed e Melinda Pardy esperavam o avanço de uma tempestade próxima de sua propriedade quando viram um relâmpago atingir o solo a menos de um quilômetro. Instantes depois, notaram uma bola de luz entre um e dois metros de diâmetro flutuando cerca de sete metros acima da planície.
O objeto luminoso permaneceu visível por aproximadamente sessenta segundos, mas a câmera do casal captou somente os últimos vinte e três. Na gravação, a esfera move-se de forma estável, sem emitir ruído perceptível, até desaparecer subitamente, sem deixAR vestígios de fumaça ou detritos.
Desde a divulgação das imagens, pesquisadores da Universidade de Calgary e grupos independentes de ufologia solicitaram acesso ao material original. As equipes pretendem analisar luminosidade, trajetória e variações de cor para determinar se o fenômeno pode, de fato, ser classificado como raio globular.
Fenômeno raro e pouco compreendido
Relatos de esferas elétricas flutuantes remontam ao século XII, quando um abade em Canterbury, Inglaterra, descreveu luzes arredondadas durante uma tempestade. Só em 1638 surgiu um novo registro detalhado, em Widecombe, também na Inglaterra, evidenciando a baixa frequência do evento.
Apesar de séculos de observação casual, as causas e a física por trás dos raios globulares permanecem indefinidas. A literatura científica menciona aparições que duram de poucos segundos a vários minutos, exibindo cores que variam entre branco, laranja e azul, em ambientes abertos ou no interior de edificações.
Em 2012, pesquisadores da Universidade Normal do Noroeste, na China, gravaram uma esfera luminosa no planalto de Qinghai usando câmera e espectrômetro. A análise espectral apontou presença de cálcio, silício e ferro, sinais de material vaporizado do solo, indicando que um relâmpago comum pode ter desencadeado a formação de plasma.
Hipóteses em análise
O caçador de tempestades George Kourounis, consultado pela emissora CTV News, enumerou duas explicações possíveis para o vídeo de Alberta. A primeira sugere que se trata, de fato, de um raro raio globular, hipótese reforçada pela movimentação suave e pela ausência de centelhas visíveis.
A segunda hipótese relaciona o fenômeno a um arco elétrico gerado após um raio atingir uma linha de transmissão próxima. Nesse cenário, descargas subsequentes podem produzir um brilho intermitente que, ao cessar, deixa no ar uma nuvem de faíscas semelhante ao efeito captado pela câmera.
Ed e Melinda Pardy rejeitam a ideia de interferência em cabos de energia. Segundo o casal, não há linhas de alta tensão imediatas no trecho sobrevoado pela esfera, e nenhuma interrupção elétrica foi relatada na comunidade durante o período da tempestade.
Especialistas em física atmosférica observam, contudo, que o raio globular pode resultar de múltiplos mecanismos. Fatores como composição do solo, umidade, intensidade do campo elétrico e concentração de poeira ou aerossóis podem influenciar a formação das esferas, tornando cada ocorrência única.
Sem consenso científico, o fenômeno continua classificado como um dos maiores desafios na pesquisa sobre descargas atmosféricas. Equipamentos de alta velocidade e sensores espectrais avançados vêm sendo instalados em regiões com grande incidência de tempestades para ampliar a base de dados.
Enquanto novos estudos não esclarecem a origem dessas luzes autônomas, o vídeo gravado em Alberta passa a integrar o curto, porém valioso, acervo de registros visuais de possíveis raios globulares. A expectativa é que análises detalhadas ajudem a reduzir as lacunas sobre um dos eventos mais enigmáticos da meteorologia.
Por ora, a esfera filmada no interior canadense reforça a necessidade de observações sistemáticas e multiponto, capazes de fornecer medições simultâneas de luminosidade, espectro e variáveis atmosféricas. Somente com dados replicáveis a ciência poderá explicar definitivamente a natureza dessas intrigantes bolas de luz.