O chefe do programa Domo de Ouro, general Michael Guetlein, declarou que a tecnologia necessária para criar um sistema espacial capaz de interceptar mísseis já encontra-se disponível. A afirmação foi feita durante o evento Innovate Space: Global Economic Summit, promovido pela Space Foundation, realizado na sede corporativa da Amazon, em Arlington, Virgínia, na terça-feira, 22.
Guetlein explicou que, embora os elementos técnicos estejam comprovados, eles nunca foram aplicados de forma integrada para proteger o território norte-americano a partir do espaço. O militar lidera a iniciativa após ser nomeado pelo então presidente Donald Trump em 20 de maio e confirmado pelo Senado em 17 de julho, ficando responsável por supervisionar a aquisição e o desenvolvimento do programa.
Tecnologia já disponível
Segundo o general, componentes críticos, como sensores, sistemas de comando e plataformas orbitais, já foram testados em outras aplicações civis e militares. Ele acrescentou que diversos experimentos anteriores demonstraram a viabilidade física de um interceptador baseado no espaço, capaz de neutralizar ameaças durante a trajetória balística.
Guetlein reforçou que a etapa científica está superada. Para ele, o ponto central passa a ser a transição dessas capacidades isoladas para um sistema operacional completo, integrado e permanente, o que demandará coordenação entre governo, Força Espacial e indústria privada.
Desafios de implementação
Apesar do otimismo, o oficial listou barreiras substanciais. A primeira refere-se ao custo: é preciso comprovar que o Domo de Ouro pode ser produzido e mantido de maneira economicamente viável. A segunda envolve escala: o projeto precisa de constelações de satélites suficientes para cobrir todas as possíveis rotas de ataque.
Outro obstáculo citado diz respeito à capacidade industrial. Guetlein questionou se a base de fornecedores norte-americana conseguirá fabricar o volume necessário de plataformas orbitais sem atrasos ou falta de matéria-prima. Ele também mencionou a necessidade de acelerar prazos para acompanhar a velocidade com que potenciais adversários desenvolvem novos armamentos.
Pressão industrial e cultural
Para viabilizar o cronograma, o general defendeu mudanças na cultura organizacional do Exército, da Força Espacial e dos contratados de defesa. Segundo ele, a estrutura atual precisa adotar métodos de aquisição mais ágeis e aproveitar inovações do setor comercial, que já trabalha em tecnologias de comunicação, propulsão e comando remoto aplicáveis ao projeto.
Guetlein afirmou que “o espaço é grande demais para a Força Espacial enfrentar sozinha” e que, por isso, parcerias com empresas privadas serão decisivas. A Northrop Grumman, por exemplo, informou a investidores, em teleconferência de resultados, que já realiza testes com interceptadores espaciais alinhados aos requisitos do Domo de Ouro.
A CEO da companhia, Kathy Warden, destacou que radares avançados e iniciativas confidenciais complementam o portfólio voltado ao programa. Outras empresas também buscam participação, enquanto o governo norte-americano avalia alternativas de lançamento além da SpaceX, em linha com diretriz anterior do ex-presidente Trump.
O general ressaltou ainda a urgência do sistema diante de avanços na China e na Rússia. Esses países desenvolvem mísseis hipersônicos capazes de superar 9.600 km/h e realizar manobras durante a fase terminal, além de satélites com potencial ofensivo que podem atingir qualquer ponto do planeta.
Em meio a esse cenário, Guetlein reforçou que o Domo de Ouro pretende impedir que armas desse tipo alcancem território norte-americano, garantindo uma camada adicional de defesa além dos sistemas terrestres e navais existentes. Ele frisou que as decisões sobre financiamento, cronograma e fornecedores serão tomadas nos próximos meses.
Com a missão de transformar conceitos em capacidade operacional, o comandante agora conduz estudos técnicos, avaliações de custo e negociações com a indústria. O objetivo é estabelecer, ainda nesta década, a arquitetura inicial do Domo de Ouro, definindo número de satélites, protocolos de interceptação e cronograma de lançamento.
Enquanto isso, o Departamento de Defesa monitora o progresso de competidores estrangeiros e revisa sua própria estratégia espacial. Para Guetlein, a combinação de tecnologia disponível, cooperação público-privada e senso de urgência poderá determinar a rapidez com que os Estados Unidos implementarão um escudo antimísseis baseado em órbita terrestre.