O Observatório Vera C. Rubin, ainda em processo de comissionamento, identificou imagens do cometa interestelar 3I/ATLAS enquanto realizava calibrações de rotina. O achado ocorreu antes mesmo do início oficial das operações científicas do supertelescópio localizado no Chile.
O 3I/ATLAS havia sido descoberto em 1º de julho pelo sistema de monitoramento ATLAS. Sabendo onde procurar, a equipe do Rubin vasculhou seus registros brutos e encontrou capturas datadas de 21 de junho que já mostravam o visitante de fora do Sistema Solar.
Em seguida, astrônomos combinaram essas primeiras imagens com medições obtidas até 7 de julho, criando um conjunto de dados contínuo que permite analisar a trajetória e as características físicas do objeto com maior precisão.
Os resultados preliminares foram descritos em artigo disponibilizado no repositório arXiv, etapa anterior à revisão por pares. A análise confirma a natureza cometária do corpo e fornece detalhes inéditos sobre seu tamanho e evolução nas últimas semanas.
Coma em expansão e dimensões do núcleo
As imagens do Rubin indicam que a coma empoeirada — envelope gasoso que envolve o núcleo — aumentou rapidamente. Em junho, o diâmetro aproximado equivalia ao da Terra; agora, o raio cresceu em quase três mil quilômetros, sinalizando intensa sublimação de gelo enquanto o cometa se aproxima do Sol.
Com base no brilho observado e em modelos de refletância, o núcleo sólido do 3I/ATLAS foi estimado em cerca de 5,6 quilômetros. Esse valor coloca o objeto entre os maiores visitantes interestelares já registrados.
Terceiro visitante além do Sistema Solar
O 3I/ATLAS é apenas o terceiro corpo confirmado vindo de outra estrela a adentrar o Sistema Solar. Os anteriores foram o asteroide ’Oumuamua, detectado em 2017, e o cometa Borisov, observado em 2019.
Dados iniciais mostram que o novo objeto se desloca aproximadamente duas vezes mais rápido que seus predecessores e apresenta dimensões significativamente superiores. As medições sugerem ainda que ele pode ter se formado antes mesmo do surgimento do Sistema Solar, tornando-se um valioso marcador das condições da nebulosa interestelar primitiva.
Papel do Observatório Rubin
Embora ainda finalize ajustes de hardware, software e óptica, o Rubin já executa varreduras célicas extensas para testar cada subsistema. Foi durante essas rotinas que o cometa apareceu, evidenciando a capacidade do instrumento mesmo fora do regime operacional pleno.
Pesquisadores envolvidos no estudo destacam que, caso o observatório estivesse totalmente funcional, teria identificado o 3I/ATLAS antes do sistema ATLAS. O episódio reforça o potencial do telescópio para revelar objetos rápidos e raros logo que surgem nos céus.
Ao longo dos dez anos do programa Legacy Survey of Space and Time (LSST), os cientistas estimam que o Rubin possa descobrir entre cinco e 50 novos objetos interestelares. Esse volume multiplicará as oportunidades de examinar corpos formados em ambientes estelares distintos.
A fase de comissionamento prossegue até que todas as calibrações sejam concluídas e as rotinas de observação se tornem regulares. Uma vez em operação plena, o observatório deve produzir o levantamento astronômico mais abrangente já executado, oferecendo à comunidade um fluxo constante de dados sobre fenômenos transientes.
Para especialistas em pequenos corpos, o monitoramento contínuo proporcionado pelo Rubin pode ser decisivo para entender composição, dinâmica e origem desses mensageiros extrassolares, ampliando o conhecimento sobre a variedade de materiais presentes na Via Láctea.