O economista norte-americano Paul Krugman, laureado com o Nobel de Economia em 2008, descreveu o Pix como a solução que melhor representa o futuro dos pagamentos digitais.
A avaliação foi publicada em 22 de julho de 2025, em artigo na plataforma Substack, no qual o professor da Universidade da Cidade de Nova York comparou o sistema brasileiro à realidade dos Estados Unidos.
Pix ganha destaque pela inclusão e pelos baixos custos
Krugman ressaltou que o serviço lançado pelo Banco Central em novembro de 2020 se notabiliza por transações instantâneas, custo reduzido e ampla capilaridade.
Segundo o economista, 93 % dos adultos brasileiros já utilizam a ferramenta, número que demonstra substituição acelerada de dinheiro em espécie e cartões.
Ele também recordou o início do Pix Automático, funcionalidade que amplia o escopo do sistema ao permitir pagamentos recorrentes sem interação do usuário.
Para o prêmio Nobel, esses fatores ilustram como uma infraestrutura pública pode promover inclusão financeira e aumentar a eficiência de pagamentos no varejo.
O texto compara o Pix ao norte-americano Zelle, plataforma operada por bancos privados. Ainda que ambos possibilitem transferências instantâneas, Krugman considera o sistema brasileiro “muito mais fácil de usar” e com alcance superior.
Na avaliação dele, o Pix realiza, com recursos convencionais, tudo aquilo que entusiastas de blockchain prometem entregar sem incorrer em custos elevados ou riscos de segurança típicos de criptomoedas.
Críticas à resistência política nos Estados Unidos
O economista destina parte do artigo a questionar a decisão do Congresso norte-americano de aprovar lei que proíbe o Federal Reserve de criar uma moeda digital.
Na visão de Krugman, parlamentares republicanos preocupam-se mais em preservar receitas de bancos privados do que em defender a privacidade dos cidadãos.
Ele argumenta que a legislação mantém brechas para fraudes e potenciais crises financeiras, ao inviabilizar um instrumento público de pagamento eficiente.
Como alternativa, o professor propõe uma “moeda digital parcial”, lastreada em contas bancárias privadas, inspirada no real digital em estudo no Brasil e no próprio Pix.
Krugman lembra que apenas 2 % dos americanos usaram criptomoedas para compras em 2024, percentual que reforça a escassez de opções de pagamento modernas nos Estados Unidos.
Ele observa ainda que o ex-presidente Donald Trump chegou a criticar o Pix e que o setor financeiro doméstico dificilmente aceitaria a concorrência de um sistema similar controlado pelo governo.
Referência para outros países
Embora o Brasil não figure tradicionalmente como polo de inovação financeira, o Nobel considera o Pix um caso de sucesso a ser monitorado por outras nações interessadas em modernizar suas infraestruturas de pagamento.
Na análise de Krugman, governos que pretendem ampliar o acesso a serviços financeiros podem adotar modelo baseado em plataforma pública, replicando os benefícios de rapidez e custo reduzido observados no país sul-americano.
O professor também destacou a percepção de que o Brasil respeita suas instituições e aplica sua política econômica sem grandes sobressaltos, contrastando com impasses políticos recorrentes no cenário norte-americano.
Ele chegou a mencionar que o Brasil julgou ex-presidentes acusados de tentar anular eleições, insinuando que, nos Estados Unidos, circunstâncias similares ainda geram forte polarização.
Na conclusão do artigo, Krugman reconhece que o Pix pode servir de benchmark global, mas demonstra ceticismo de que os Estados Unidos adotem solução comparável em curto prazo.
Para ele, a combinação de interesses privados consolidados e entusiasmo por tecnologias cripto continuará retardando a implementação de uma infraestrutura pública de pagamentos instantâneos no país.
Com isso, o Brasil consolida-se como exemplo prático de que uma política pública focada em meios de pagamento digitais pode transformar a relação da população com o dinheiro, enquanto a economia norte-americana segue dependente de sistemas mais lentos e custosos.