Lead: Observações recentes do Telescópio Espacial James Webb (JWST) indicam que o exoplaneta K2-18b, a 124 anos-luz da Terra, provavelmente não apresenta o gás associado à vida que havia sido sugerido em 2023, diminuindo as expectativas de existência de organismos extraterrestres.
Indício de vida perde força
Em abril, um estudo da Universidade de Cambridge relatou a possível presença de sulfeto de dimetila (DMS) na atmosfera do planeta, molécula produzida na Terra apenas por seres vivos. O sinal, porém, já era considerado fraco.
Nova análise conduzida por Renyu Hu, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, combinou todos os dados disponíveis do JWST e não conseguiu confirmar o DMS. Segundo o grupo, a assinatura anterior pode ter sido efeito de ruído estatístico.
Se o gás existir no planeta, explicam os autores, sua origem também poderia ser puramente química, sem relação com atividade biológica. Dessa forma, o principal argumento pró-vida se tornou incerto.
Como o planeta foi estudado
K2-18b foi identificado em 2015, mas ganhou destaque em abril deste ano, quando medições sugeriram um vasto oceano líquido cobrindo sua superfície. O corpo tem 2,6 vezes o diâmetro da Terra e massa suficiente para ser classificado como superterra.
Devido à distância e à falta de luz própria, o planeta não pode ser observado diretamente. Os astrônomos recorrem ao método de trânsito: monitoram a luz da estrela hospedeira quando o planeta passa à frente dela e avaliam quais gases absorvem parte desse brilho.
O JWST, lançado em 2021, trouxe precisão inédita ao registrar variações sutis na faixa infravermelha. Essa capacidade permitiu detectar hidrogênio, dióxido de carbono e metano na atmosfera do exoplaneta durante observações lideradas pelo astrônomo Nikku Madhusudhan em 2023.
Primeira detecção contestada
Ao analisar comprimentos de onda maiores, a equipe de Madhusudhan apontou uma probabilidade de apenas 0,3% de o sinal de DMS ser fruto do acaso. O resultado animou parte da comunidade científica, mas gerou questionamentos imediatos.
Rafael Luque, da Universidade de Chicago, revisou independentemente todos os dados e concluiu que a evidência não era robusta. A comparação entre espectros indicou que a assinatura podia desaparecer quando ruídos instrumentais eram tratados de maneira mais rigorosa.
A polêmica motivou a coleta de novos registros com outro instrumento do JWST. Esses dados, divulgados agora, reforçam a ausência da molécula em quantidades detectáveis, reduzindo a margem para interpretações biológicas.
Resultados do estudo atual
O trabalho coordenado por Renyu Hu confirma uma atmosfera rica em hidrogênio, vapor d’água, dióxido de carbono e metano. O modelo atmosférico aponta ainda a existência de um possível oceano global, coerente com as medições de massa e raio.
Mesmo com água abundante, os pesquisadores destacam que a química observada não favorece processos semelhantes aos terrestres. A pressão atmosférica estimada pode ser dezenas de vezes maior que a da Terra, cenário que dificultaria a estabilidade de compostos orgânicos complexos.
O artigo da equipe informa que qualquer quantidade de DMS, se presente, está abaixo do limite de detecção atual. Melhorias instrumentais ou missões futuras seriam necessárias para buscar traços mais tênues do gás.
Desafios da busca por bioassinaturas
A controvérsia em torno do K2-18b ilustra a dificuldade de associar sinais espectrais a vida. Variações mínimas de luz, interferência da estrela e limitações dos modelos podem gerar falsos positivos ou negativos.
A NASA destaca que, mesmo quando um composto típico de processos biológicos é identificado, mecanismos abióticos precisam ser descartados. Esse cuidado evita conclusões precipitadas sobre eventual presença de organismos.
Por enquanto, K2-18b permanece como um alvo promissor para estudos de atmosferas exoplanetárias, mas não oferece evidências sólidas de vida alienígena. Pesquisadores seguem monitorando o planeta e aguardam dados complementares do JWST nos próximos anos.