A xAI, empresa de inteligência artificial fundada por Elon Musk, intensificou a busca por recursos para enfrentar Google, Microsoft e Meta. Após arrecadar US$ 10 bilhões em ações e dívida, a companhia negocia mais US$ 12 bilhões, com intermediação da Valor Equity Partners, para comprar chips avançados da Nvidia e ampliar sua infraestrutura.
Captação bilionária e foco em GPUs
Os novos fundos serão destinados à aquisição de unidades de processamento gráfico que equiparão um megacentro de dados dedicado ao treinamento do chatbot Grok. Segundo fontes próximas às negociações, a meta é levantar rapidamente o capital para garantir estoque de hardware antes de eventuais restrições de oferta.
O interesse pelos chips da Nvidia decorre da alta demanda global por componentes capazes de processar modelos generativos de grande porte. Ao concentrar a compra agora, a xAI tenta driblar o encarecimento previsto e assegurar capacidade computacional suficiente para as próximas fases do Grok.
A estrutura de financiamento envolve títulos de dívida e acordos de leasing de hardware. Nessa modalidade, investidores adquirem as GPUs e as alugam à xAI, transferindo parte do risco de obsolescência tecnológica aos credores.
Infraestrutura própria sem apoio das nuvens públicas
Diferentemente dos concorrentes, a xAI optou por não firmar parceria com grandes provedores de computação em nuvem. A decisão obriga a empresa a bancar integralmente data centers, redes elétricas e sistemas de resfriamento, elevando o desembolso inicial.
O principal ativo físico já em operação é o cluster Colossus, instalado em Memphis. Com 200 mil GPUs, ele figura entre os maiores ambientes de treinamento de IA existentes e serve de base para experimentos do Grok.
Musk planeja escalar esse contingente para 1 milhão de chips nos próximos anos. O avanço inclui a construção de novas instalações e a expansão de pontos de interconexão, a fim de reduzir latências internas durante os cálculos distribuídos.
Riscos, garantias e pressão sobre o caixa
A estratégia agressiva impõe forte queima de caixa. Projeções internas apontam que a xAI pode consumir até US$ 13 bilhões em 2025, com receitas ainda incipientes e sem previsão de lucratividade à vista.
Para atrair financiamento, Musk oferece diversas garantias. Entre elas estão a propriedade intelectual do Grok e investimentos cruzados vindos da SpaceX, empresa espacial também liderada por ele, que eventualmente participa da mesma cadeia de suprimentos de componentes eletrônicos.
Credores, porém, exigem prazos curtos e limites de exposição. O receio principal é a rápida perda de valor dos chips, cujo desempenho é superado regularmente por novas gerações, reduzindo o valor de revenda do equipamento.
Se a xAI deixar de honrar pagamentos, os investidores poderão assumir o controle dos data centers e do código-fonte do Grok. Esses ativos são vistos como as garantias mais tangíveis em um mercado pautado principalmente por intangíveis.
O histórico de sucesso de Musk em projetos anteriores funciona como trunfo adicional. A capitalização recorrente da Tesla e a persistência da SpaceX em missões orbitais ajudam a sustentar a confiança de financiadores dispostos a aceitar condições de risco acima da média.
Apesar do interesse, analistas observam que a margem para atrasos é curta. Cada trimestre sem novos usuários pagantes ou contratos corporativos pressiona o fluxo de caixa e amplia a necessidade de rodadas adicionais.
Ainda assim, a xAI mantém o cronograma de expansão. A empresa finaliza especificações para um segundo centro de dados, cujas obras devem começar nos próximos meses, também nos Estados Unidos, em local ainda não divulgado.
O crescimento acelerado reflete a percepção de que modelos proprietários de IA exigem infraestrutura dedicada. Com o Grok, a xAI pretende competir diretamente com Gemini, de Google, e com o Copilot, da Microsoft, que já contam com redes de servidores consolidadas.
Enquanto os rivais exploram assinaturas empresariais e integrações a ecossistemas existentes, o plano de Musk foca na diferenciação por meio de velocidade de evolução do modelo e controle absoluto sobre a pilha tecnológica.
No curto prazo, o principal desafio será equilibrar investimentos pesados em hardware com a evolução comercial do Grok. A base de usuários do X, rede social também de sua propriedade, é vista como canal inicial para testes e monetização.
Executivos envolvidos nas negociações afirmam que novas tranches de financiamento podem ocorrer ainda este ano. A depender do custo de capital, parte dos recursos poderá ser destinada à pesquisa de novos algoritmos, reduzindo a dependência exclusiva de GPUs.
Em paralelo, a xAI continua contratando engenheiros especializados em computação de alto desempenho e treinamento distribuído. A equipe é distribuída entre escritórios na Califórnia, no Texas e no Tennessee.
Embora o cenário seja de forte competição, a xAI aposta que a combinação de ativos físicos próprios e a reputação de Musk será suficiente para angariar novos aportes. As próximas etapas dependerão da capacidade de converter o Grok em fonte real de receita.
Até lá, a startup segue no modo de expansão acelerada, queimando caixa para instalar servidores, adquirir chips e garantir participação relevante no mercado de inteligência artificial generativa.