A xAI, startup de inteligência artificial liderada por Elon Musk, enfrenta resistência interna depois de pedir que colaboradores gravassem vídeos expressando diversas emoções para alimentar o modelo Grok.
A iniciativa, batizada de Skippy, foi lançada em abril e envolveu mais de 200 integrantes da companhia nos Estados Unidos, segundo mensagens internas obtidas pelo Business Insider.
Solicitação incluiu cenas de conversas íntimas
Os funcionários foram orientados a simular diálogos cotidianos e situações pessoais diante da câmera, registrando expressões faciais como alegria, tristeza, surpresa e raiva.
O objetivo declarado era ensinar a plataforma a interpretar estados emocionais com maior naturalidade, ampliando a capacidade do chatbot de manter interações humanas mais convincentes.
No entanto, a obrigação de encenar conversas sensíveis gerou desconforto imediato, especialmente entre quem preferia delimitar a exposição de aspectos da vida privada.
Termo de cessão em caráter perpétuo motivou recusa
Antes de participar, cada colaborador precisou assinar um documento que concedia à xAI o direito irrevogável de usar sua imagem e voz para treino de algoritmos e possíveis campanhas comerciais.
Esse direito de uso perpétuo provocou questionamentos sobre a extensão do controle dos dados, levando diversos membros da equipe a recusar a gravação.
De acordo com os registros internos, parte dos empregados temia que os arquivos fossem empregados na criação de avatares hiper-realistas ou em novos produtos sem consentimento adicional.
Alguns também manifestaram receio de que o material pudesse vazar ou ser reutilizado de forma que colocasse sua reputação em risco fora do ambiente corporativo.
Precedentes aumentaram a desconfiança
A preocupação se intensificou após polêmica envolvendo protótipos de avatares da xAI que, segundo relatos de usuários, flertavam ou faziam ameaças durante interações públicas.
Funcionários temiam que esses comportamentos tivessem sido parcialmente treinados com base nos vídeos internos, hipótese não confirmada pela empresa.
Embora a xAI tenha assegurado que os rostos não seriam replicados diretamente em figuras digitais, a garantia não bastou para dissipar a inquietação sobre a preservação da identidade.
Fontes ligadas ao projeto afirmam que a companhia não detalhou de que forma os dados seriam segmentados, anonimizados ou descartados após o uso.
Além disso, não houve esclarecimento sobre mecanismos para revogar a cessão ou limitar futuras aplicações comerciais, elemento considerado crítico por quem optou por não participar.
Empresa mantém silêncio público
Até o momento, a xAI não divulgou posicionamento oficial a respeito da controvérsia, nem informou se revisará o termo de licenciamento para acomodar as preocupações internas.
O modelo Grok continua em fase de aprimoramento e já está integrado à plataforma X, ex-Twitter, oferecendo respostas em linguagem natural e, em breve, acesso gratuito limitado.
Apesar do impasse, fontes próximas ao projeto afirmam que a coleta de dados prossegue com número reduzido de voluntários, enquanto a direção avalia alternativas menos invasivas.
Não houve indicação de que os funcionários que se recusaram a gravar vídeos tenham sofrido represálias, mas a situação expôs tensões sobre privacidade e transparência dentro da startup.
A discussão ocorre em meio ao debate mais amplo sobre direitos de imagem no treinamento de sistemas de IA, tema que ganhou relevância jurídica e regulatória em diferentes mercados.
Especialistas observam que políticas de consentimento claras e prazos definidos para uso de conteúdo podem se tornar exigência comum à medida que empresas buscam dados cada vez mais sensíveis para melhorar modelos generativos.
Enquanto a xAI avalia os próximos passos, parte da equipe segue aguardando orientações formais que garantam maior proteção aos colaboradores envolvidos no desenvolvimento do Grok.