Desafiando as Sombras do Ofício
A noite cai sobre a cidade, trazendo consigo uma atmosfera de mistério e perigo. Enquanto a maioria das pessoas se recolhe em seus lares, um profissional se prepara para iniciar mais um plantão. Ele é o fotógrafo técnico pericial da Polícia Civil, um dos responsáveis por documentar as cenas de crimes e acidentes que ocorrem nas ruas.
Ele carrega consigo uma câmera, um tripé, um flash e outros equipamentos que lhe permitem registrar os detalhes mais importantes de cada ocorrência. Ele sabe que sua missão é fundamental para a elucidação dos casos e a busca pela justiça. Ele também sabe que sua profissão exige coragem, sangue frio e sensibilidade.
Ele não tem medo do escuro, nem do desconhecido. Ele enfrenta a realidade nua e crua, sem filtros nem retoques. Ele vê o que muitos preferem não ver: a violência, a morte, a dor. Ele capta com suas lentes o que muitos não conseguem expressar com palavras: a angústia, o luto, a esperança. Ele vive entre a luz e a sombra, entre a vida e a morte, entre a arte e a ciência.
O Silêncio dos Registros
Quando ele chega ao local de um crime ou de um acidente, ele se depara com um cenário sombrio. Pode ser uma rua, uma casa, um carro, um corpo. Ele observa atentamente cada elemento, cada vestígio, cada indício.
Ele procura o melhor ângulo, a melhor iluminação, a melhor composição. Ele ajusta o foco, o zoom, o obturador. Ele dispara o flash, que ilumina por um instante a escuridão.
Ele não está sozinho. Ele trabalha em equipe com outros peritos, que coletam provas, analisam impressões digitais, realizam exames. Ele também convive com policiais, que isolam a área, interrogam testemunhas, conduzem suspeitos. Ele ainda se depara com familiares, amigos, curiosos, que se aglomeram em torno da cena, chorando, gritando, perguntando.
Ele não pode se envolver. Ele tem que manter a distância, a objetividade, a neutralidade. Ele não pode se deixar abalar pelas emoções, pelas histórias, pelas consequências. Ele tem que ser fiel aos fatos, aos dados, às evidências. Ele tem que ser o mais preciso, o mais claro, o mais completo possível. Ele tem que produzir um registro silencioso, mas eloquente, de cada ocorrência.
A câmera, seu instrumento de trabalho, é também sua aliada, sua confidente, sua testemunha. Ela guarda em sua memória as imagens que ele captura, que revelam não apenas aspectos físicos, mas também sentimentos, personalidades, relações.
Ela registra não apenas o que aconteceu, mas também o que poderia ter sido, o que foi interrompido, o que ficou incompleto. Ela eterniza não apenas o momento, mas também a memória, a homenagem, o respeito. A cada clique, ele sente a dualidade de sua profissão.
Ele é ao mesmo tempo um observador impassível e um artista sensível. Ele é ao mesmo tempo um técnico rigorosoe um contador de histórias. Ele é ao mesmo tempo um profissional competente e um ser humano solidário. Ele é ao mesmo tempo um fotógrafo e um perito.
Entre a Sombra e a Luz do Dia Seguinte
Quando ele termina seu plantão, ele deixa para trás as cenas de crimes e acidentes. Ele se despede dos colegas, dos policiais, dos familiares. Ele entrega seu material, seu relatório, sua contribuição. Ele sai da escuridão da noite e entra na claridade do dia. Ele volta para sua casa, para sua família, para sua vida.
Ele carrega consigo as imagens que viu, que fotografou, que registrou. Ele não pode esquecê-las, nem apagá-las, nem ignorá-las. Elas fazem parte de sua história, de sua experiência, de seu aprendizado. Elas o marcam, o ensinam, o transformam. Elas o fazem refletir, questionar, valorizar.
Ele não se entrega à sombra, nem ao desânimo, nem ao pessimismo. Ele busca a luz, o equilíbrio, o otimismo. Ele se reconecta com sua essência, sua identidade, sua personalidade. Ele se reencontra com seus valores, seus sonhos, seus projetos. Ele se renova com seu amor, sua fé, sua esperança.
Em sua sala, ele tem um mural de fotografias. São fotos de sua família, de seus amigos, de seus momentos felizes. São fotos de seu casamento, de seus filhos, de suas viagens. São fotos de sua infância, de sua juventude, de sua trajetória. São fotos que mostram quem ele é, de onde ele veio, para onde ele vai.
No café da manhã, ele se diverte com as histórias, as brincadeiras, as risadas de seus filhos. Ele se emociona com os abraços, os beijos, os carinhos de sua esposa. Ele se alegra com as novidades, os planos, os convites de seus amigos. Ele se sente vivo, feliz, grato.
As imagens sombrias que ele viu no trabalho dão lugar às imagens luminosas que ele vê em casa. As lembranças tristes que ele guarda em sua câmera dão lugar às lembranças alegres que ele guarda em seu coração. O fotógrafo não é apenas o que registra a morte; ele é também o que celebra a vida.
A vida do fotógrafo técnico pericial é um desafio constante entre enfrentar o obscuro e abraçar a luz. Ele persiste, não apenas como um profissional dedicado, mas como um ser humano compassivo. Em cada cena de crime, ele encontra não apenas tragédias, mas histórias inacabadas e a responsabilidade de oferecer justiça através de suas lentes. E assim, ele segue, uma jornada entre sombras e luz, tecendo a complexa tapeçaria da vida.
Este artigo foi escrito por : Sérgio Antônio – Fotógrafo Pericial
Veja mais na nossa sessão: A realidade atrás das lentes . Espero que tenha gostado.
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