Informações que circulam desde 21 de julho de 2025 sugerem que os Estados Unidos poderiam interromper o sinal civil do GPS para o Brasil em meio a atritos diplomáticos.
A possibilidade, destacada na coluna “Fala, Ayub”, levantou dúvidas sobre eventual colapso de atividades que dependem de posicionamento por satélite.
Origem e histórico da hipótese
O medo de um bloqueio remete à prática denominada “availability degradation”, mantida pelos EUA até maio de 2000.
Antes dessa data, o sinal civil recebia erro aleatório de até 100 metros; a restrição ficou notória quando a Índia, em 1999, pediu acesso preciso durante conflito com o Paquistão e não foi atendida.
Desde então, Washington evita retomar a medida para não incentivar novos concorrentes no mercado de navegação por satélite.
Alternativas ao GPS norte-americano
O incidente indiano impulsionou o surgimento de outros Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS).
Hoje operam o russo GLONASS (em serviço desde 1982), o chinês BeiDou (2000), o europeu Galileo (2005), o japonês QZSS (2010) e o indiano NavIC (2013).
Smartphones vendidos no Brasil costumam captar sinais dessas constelações simultaneamente, elevando a precisão e reduzindo dependência de um único provedor.
No transporte aéreo, a Agência Nacional de Aviação Civil exige que pilotos dominem a radionavegação baseada em estações VOR instaladas em solo, tecnologia que prescinde de satélites.
Equipamentos mais antigos usados em agricultura de precisão, telecomunicações e óleo e gás podem ser trocados por receptores multiconstelação já disponíveis no mercado.
Efeitos setoriais projetados
Logística, ride hailing, georreferenciamento e monitoramento ambiental passariam a usar apenas GLONASS, Galileo ou BeiDou caso o GPS fosse negado.
Segundo especialistas ouvidos pela coluna, ajustes de software e troca de antenas seriam suficiente para manter a continuidade operacional.
Na prática, a ameaça de parada generalizada é considerada limitada, pois a infraestrutura nacional já lida com sinais de múltiplas origens.
Dependência crítica está no software
A análise publicada em 21 de julho enfatiza que o ponto fraco brasileiro não são satélites, mas sim softwares e serviços em nuvem fornecidos por empresas dos EUA.
Ferramentas da Microsoft, Amazon, Google, Oracle, IBM e outras sustentam sistemas corporativos, bancos de dados, redes e aplicações de clientes públicos e privados.
Países sob sanções, como Cuba, Irã, Síria, Sudão, Coreia do Norte e Venezuela, já foram proibidos de contratar esses produtos, evidenciando o alcance de medidas administrativas de Washington.
Se restrições semelhantes fossem impostas ao Brasil, organizações teriam de migrar, em curto prazo, para soluções nacionais ou internacionais não controladas por provedores norte-americanos.
A substituição seria viável, porém custosa, exigindo investimentos em licenças, treinamento e readequação de processos.
Enquanto isso, a União Europeia aposta em trajetórias graduais para diminuir a exposição a plataformas dos EUA, financiando desenvolvimento de software aberto e data centers regionais.
A China adotou estratégia mais agressiva, criando arquitetura própria de processadores, sistemas operacionais e nuvem, movimento apontado como parte de uma nova disputa tecnológica global.
Especialistas indicam que o Brasil possui infraestrutura de data centers, redes de alta capacidade e profissionais qualificados para trajetória semelhante, caso exista vontade estratégica.
O debate atual sobre corte do GPS oferece lição sobre priorização de riscos.
A multiplicidade de constelações reduz o impacto de eventual bloqueio de satélites dos EUA, mas a forte presença de software estrangeiro permanece como fator de vulnerabilidade.
Autoridades e empresas acompanham o desdobramento das tensões diplomáticas enquanto avaliam cenários de continuidade de negócios e soberania digital.