A Administração Aeroespacial da Coreia (KASA) apresentou um plano que prevê a construção de uma base na Lua até 2045. O documento foi detalhado durante audiência na Fundação Nacional de Pesquisa, em Daejeon, e estabelece metas para pouso, operação e exploração de recursos lunares com tecnologia desenvolvida no próprio país.
Meta de longo prazo envolve desenvolvimento de tecnologia própria
Criada em 2024, a KASA estruturou cinco missões principais. Entre elas estão experimentos em órbita baixa da Terra, pesquisas em ambiente de microgravidade, exploração lunar de superfície, além de estudos de ciência solar e espacial a partir da futura instalação no satélite natural.
Para viabilizar a extração de recursos, o Instituto Coreano de Geociência e Recursos Minerais testou protótipos de robôs em uma mina de carvão desativada. O ensaio simulou condições de mineração espacial e avaliou sistemas de locomoção, escavação e teleoperação que poderão ser empregados em missões reais.
O cronograma da agência inclui o envio de um módulo robótico à Lua em 2032. Na sequência, está previsto o desenvolvimento de um pousador mais avançado até 2040, capaz de transportar cargas maiores e servir de plataforma para construção da base permanente.
Experiência prévia reforça confiança no cronograma
A Coreia do Sul já acumula histórico de atividades lunares. Em agosto de 2022, lançou a sonda Korea Pathfinder Lunar Orbiter, conhecida como Danuri, a bordo de um foguete Falcon 9. A nave entrou em órbita da Lua quatro meses depois e continua operando, enviando dados topográficos e espectrais que auxiliam no mapeamento de áreas de interesse para futuras missões de pouso.
O sucesso de Danuri fortalece os planos nacionais de independência tecnológica. A KASA pretende construir seus próprios sistemas de propulsão, navegação e descida, reduzindo a dependência de fornecedores externos e garantindo maior autonomia no planejamento de janelas de lançamento.
Além da Lua, o programa estipula realizar o primeiro pouso sul-coreano em Marte também em 2045. O objetivo é aproveitar sinergias de desenvolvimento, como propulsores de longo curso e plataformas de suporte à vida, gerando economia de escala entre os dois projetos.
Ampla corrida internacional pela presença permanente na Lua
O esforço sul-coreano ocorre em meio a uma disputa global por infraestrutura no satélite. Os Estados Unidos pretendem iniciar a montagem de bases lunares na próxima década por meio do programa Artemis. China e Rússia coordenam projeto semelhante, enquanto a Índia anunciou ambição de estabelecer sua própria instalação até 2047.
A convergência de iniciativas multiplica oportunidades de cooperação, mas também impõe desafios de padronização de equipamentos, alocação de recursos e definição de zonas de operação. A KASA afirmou que acompanhará os debates internacionais sobre normas de segurança e uso sustentável do ambiente lunar.
Embora o foco imediato seja a montagem da base, o plano sul-coreano abrange experimentos de ciência solar e espacial. Os módulos previstos devem hospedar instrumentos para monitorar radiação, variações do vento solar e condições do espaço profundo, contribuindo para a proteção de satélites em órbita da Terra.
A estratégia inclui ainda análises de amostras de regolito para identificar presença de água congelada e elementos como hélio-3, substâncias consideradas fundamentais para futuras cadeias de abastecimento energético fora do planeta.
Paralelamente, pesquisadores sul-coreanos investigam materiais lunares encontrados na Terra. O meteorito Northwest Africa 16286, descoberto em 2023 e datado de 2,35 bilhões de anos, vem sendo estudado por sua composição basáltica incomum, que indica atividade vulcânica tardia no interior da Lua. As informações podem orientar escolhas de local para perfurações e coleta de rochas durante as próximas missões.
Com orçamento ainda sujeito a aprovação parlamentar, a KASA planeja iniciar, nos próximos anos, a construção de maquetes em escala real dos módulos de pouso e habitats. A fase de testes em ambientes simulados deverá medir resistência a radiação cósmica, variações extremas de temperatura e ciclos prolongados de vácuo.
Se o cronograma for mantido, a Coreia do Sul integrará o seleto grupo de nações com presença física permanente no satélite natural e abrirá caminho para a etapa seguinte de exploração interplanetária.