A Coca-Cola confirmou que lançará nos Estados Unidos uma fórmula adoçada com açúcar de cana, movimento divulgado nesta terça-feira (22) no relatório de resultados da companhia.
A informação ocorre poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump ter declarado que a receita da bebida deixaria de usar xarope de milho com alto teor de frutose (HFCS).
Mudança confirmada pela companhia
No documento aos investidores, a empresa explicou que a novidade integra sua agenda de inovação e será oferecida como mais uma opção dentro do portfólio norte-americano.
A fabricante não forneceu prazos detalhados nem indicou se a nova versão substituirá totalmente a atual, adoçada com HFCS desde o início dos anos 1980.
Algumas variantes da Coca-Cola, como a vendida no México, já utilizam sacarose extraída da cana, mas essa composição não estava disponível de forma regular no mercado dos Estados Unidos.
Trump havia afirmado que a troca tornaria o refrigerante “melhor”, porém não apresentou dados que sustentassem a expectativa de benefícios à saúde.
Diferenças entre os adoçantes
O HFCS é elaborado a partir do amido de milho e passa por um processo enzimático que eleva a proporção de frutose, aumentando o poder adoçante e reduzindo o custo para a indústria.
As formulações mais comuns contêm 42% ou 55% de frutose, porcentagens empregadas, respectivamente, em produtos assados e em refrigerantes.
Já o açúcar de cana apresenta composição natural de 50% glicose e 50% frutose, unidas na forma de sacarose, que o organismo precisa quebrar antes da absorção.
Ambas as substâncias entregam 4 calorias por grama, mantendo valor energético equivalente quando comparadas em quantidades idênticas.
Contexto histórico do xarope de milho
O uso do HFCS se expandiu nos Estados Unidos a partir da década de 1970, impulsionado por subsídios ao milho, elevação do preço do açúcar e avanços tecnológicos na produção do adoçante.
Em 1983, a Coca-Cola adotou o xarope em suas fábricas norte-americanas, justificando a troca pelo menor custo e maior estabilidade durante o armazenamento e transporte.
A adoção do HFCS tornou-se padrão em diversos alimentos ultraprocessados, como cereais matinais, molhos, pães industrializados e refrigerantes.
Paralelamente, estudos epidemiológicos passaram a associar o consumo excessivo desse ingrediente a aumento de obesidade, diabetes tipo 2 e distúrbios metabólicos, embora os mecanismos ainda sejam investigados.
Especialistas defendem que o principal fator de risco não é o adoçante específico, mas a ingestão elevada de açúcares adicionados, independentemente da fonte.
Dessa forma, a simples troca de xarope de milho por sacarose não altera, por si só, a necessidade de moderação no consumo de bebidas açucaradas.
Possíveis impactos no mercado
A mudança anunciada pode levar a ajustes na cadeia de suprimentos, pois a cana-de-açúcar responde por parcela menor da produção de adoçantes nos Estados Unidos em comparação ao milho.
O preço final do refrigerante indicado para o consumidor não foi divulgado, mas analistas avaliam que a utilização de sacarose tende a elevar custos de produção.
Nos últimos anos, a Coca-Cola tem ampliado a oferta de versões com teor reduzido ou zero de açúcar, acompanhando a demanda por alternativas de menor valor calórico.
A inclusão de uma variante adoçada com cana se encaixa nessa estratégia de diversificação, ainda que mantenha o mesmo conteúdo de açúcar por porção da fórmula original.
A empresa também anunciou que monitorará a recepção do novo produto e poderá expandir sua distribuição conforme a resposta do mercado.
Até o momento, não há confirmação sobre alterações na receita de outras bebidas do grupo nem sobre o eventual abandono definitivo do xarope de milho.
A divulgação ocorre em meio à discussão pública sobre rotulagem de açúcares adicionados, políticas de saúde preventiva e tributação de bebidas adoçadas em várias jurisdições norte-americanas.
Com o lançamento, consumidores dos Estados Unidos passarão a encontrar, lado a lado, versões da marca adoçadas com sacarose, com xarope de milho e com edulcorantes de baixa caloria, ampliando o leque de escolhas no ponto de venda.
Mesmo com a chegada da nova fórmula, órgãos de saúde mantêm a orientação de limitar a ingestão diária de açúcares, destacando que a moderação continua sendo a principal recomendação nutricional.