The Document Foundation, entidade responsável pelo pacote LibreOffice, divulgou na sexta-feira, 18 de julho de 2025, uma nota acusando a Microsoft de elevar artificialmente a complexidade dos seus formatos de documentos para desencorajar a adoção de softwares concorrentes.
O comunicado foi assinado por Italo Vignoli, um dos fundadores da organização sem fins lucrativos e defensor de longa data do software livre.
Método de “fidelização forçada”
Segundo Vignoli, a Microsoft recorre a uma “tática de fidelização forçada ao fornecedor”, tornando o Office Open XML (OOXML) — extensões .DOCX e .XLSX — excessivamente intricado.
Esse grau de dificuldade, afirma o texto, impede que outras suítes de escritório implementem compatibilidade total, perpetuando a dependência dos usuários da plataforma proprietária.
O LibreOffice, por padrão, grava arquivos no padrão OpenDocument Format (ODF), como .ODT e .ODS, também baseado em XML, porém estruturado de forma mais simples, de acordo com a fundação.
Principais pontos da crítica
O artigo sustenta que o OOXML apresenta “estruturas de tags profundamente aninhadas, abstração excessiva e centenas de elementos opcionais” que dificultam o entendimento tanto para desenvolvedores quanto para usuários finais.
Além disso, mencionam-se convenções de nomenclatura pouco intuitivas, uso amplo de curingas, múltiplos namespaces e documentação considerada escassa e confusa.
Para ilustrar, Vignoli compara o cenário a um sistema ferroviário cujas vias estariam liberadas, mas cujo controle de tráfego seria tão complexo que apenas a empresa original conseguiria operar os trens integralmente.
Consequências para o consumidor
Na visão da The Document Foundation, essa estratégia técnica cria barreiras invisíveis que mantêm empresas, governos e indivíduos dependentes do Microsoft 365, mesmo quando existem alternativas compatíveis com os padrões abertos.
O documento também relaciona o tema ao ciclo de atualizações de sistema operacional, apontando que a migração do Windows 10 para o Windows 11 estaria sendo estimulada “sem justificativa técnica clara”, reforçando o poder de mercado da companhia.
Vignoli ressalta que a maioria dos usuários não percebe as limitações impostas por detalhes de implementação, mas sente impactos diretos em custos de licenciamento e falta de opções.
Impacto potencial e reação esperada
No curto prazo, a acusação não gera efeitos regulatórios imediatos, porém a fundação avalia que a exposição pública pode influenciar debates futuros em tribunais e órgãos de defesa da concorrência.
Segundo o comunicado, a manutenção de formatos claros e simples é fundamental para garantir interoperabilidade, reduzir custos de adoção e preservar a liberdade de escolha no ambiente digital.
A entidade defende que governos e instituições internacionais adotem padrões abertos em editais e contratos, mitigando o risco de dependência de um único fornecedor.
Até o momento, a Microsoft não divulgou resposta oficial às alegações. A empresa mantém o OOXML como especificação reconhecida por organismos de padronização, argumento que costuma apresentar em discussões sobre interoperabilidade.
Enquanto isso, o LibreOffice segue promovendo o ODF como alternativa considerada “transparente e acessível” a qualquer desenvolvedor, reforçando a importância de especificações detalhadas e documentação disponível publicamente.
Especialistas do setor lembram que conflitos sobre formato de arquivo não são novidade e já motivaram investigações antitruste em diferentes jurisdições, envolvendo questões de compatibilidade e portabilidade de dados.
Nessa disputa, a The Document Foundation busca mobilizar comunidades de código aberto e pressionar formuladores de políticas a avaliarem, de forma técnica, o impacto econômico de padrões excessivamente complexos.
Com centenas de milhões de usuários de suítes de escritório no mundo, a discussão sobre formatos permanece central para a competição no mercado de produtividade digital.
Se governos e empresas determinarem a adoção de padrões abertos, tendem a surgir novas oportunidades para projetos livres, mas, enquanto o OOXML seguir dominante, a interoperabilidade plena continuará sendo desafio recorrente.
O tema deverá voltar à pauta em fóruns de tecnologia e eventos de software livre ao longo de 2025, quando se espera novas versões do LibreOffice e do Microsoft 365, possivelmente com avanços — ou novas críticas — sobre compatibilidade.