Nesta segunda-feira (21), o governo do Reino Unido e a OpenAI assinaram um Memorando de Entendimentos para ampliar a cooperação em inteligência artificial. O documento une a startup de Sam Altman ao Departamento de Ciência, Inovação e Tecnologia (DSIT).
O pacto, totalmente voluntário, estabelece linhas de trabalho em pesquisa de segurança, expansão de infraestrutura computacional e aplicação de sistemas de IA em serviços financiados pelos contribuintes. Não há cláusulas jurídicas que impeçam o país de negociar com outras empresas.
Foco em segurança e infraestrutura
Um dos eixos do memorando prevê a troca contínua de informações sobre riscos de segurança associados a modelos avançados. A OpenAI se compromete a compartilhar dados técnicos com o Instituto de Segurança de IA britânico.
Outra meta é apoiar o Plano de Ação de IA do Reino Unido, lançado em janeiro. A empresa ajudará o DSIT a identificar caminhos para cumprir objetivos de infraestrutura, incluindo a construção de novas Zonas de Crescimento de IA e de centros de dados.
O governo reservou duas bilhões de libras para esse plano. Parte dos recursos deverá financiar data centers capazes de suportar modelos de linguagem de alta demanda energética.
Em contrapartida, Londres avaliará a integração das ferramentas da OpenAI em áreas como Justiça, defesa e educação. A adoção poderá exigir o processamento de dados de milhões de cidadãos para alimentar serviços digitais baseados em IA.
Parceria não exclusiva
Por não ser vinculativo, o acordo permite que o Reino Unido mantenha entendimentos paralelos. A política já se reflete em contratos firmados neste ano com a Anthropic, responsável pelo Claude, e com a canadense Cohere.
Essas empresas oferecem seus modelos ao setor público britânico. A Anthropic, por exemplo, fornece tecnologia ao novo aplicativo governamental que facilita o acesso de cidadãos a informações oficiais.
A postura multilateral busca acelerar a adoção de IA, mas também dilui riscos de dependência exclusiva de um fornecedor. Ainda assim, o volume de investimentos privados no país, estimado em US$ 4,5 bilhões em 2024, permanece inferior ao registrado nos Estados Unidos e na China.
Contexto econômico e críticas
O histórico britânico em pesquisa de ponta inclui laboratórios como o Google DeepMind, sediado em Londres. A presença da OpenAI na capital, onde mantém escritório há dois anos, deve facilitar novas aplicações locais.
A startup lançou em janeiro o ChatGPT Gov, voltado a órgãos estatais, reforçando o interesse em contratos governamentais. Colaborações desse tipo podem ampliar influência regulatória da companhia na formulação de políticas de IA.
Por outro lado, grupos da indústria criativa contestam a possibilidade de mudanças na legislação de direitos autorais. Eles temem que o governo flexibilize o acesso a obras protegidas para treinar sistemas de IA corporativos.
Especialistas também alertam para dependências de longo prazo. Imogen Parker, do Instituto Ada Lovelace, questiona se os acordos consolidarão o poder de grandes players ou se criarão espaço para pequenas e médias empresas do ecossistema local.
Entre as iniciativas já em curso, o assistente governamental Humphrey utiliza o GPT-4 para organizar tarefas administrativas e analisar respostas públicas a consultas oficiais. A ferramenta exemplifica como modelos de linguagem vêm sendo testados dentro da máquina estatal.
Apesar das controvérsias, o secretário digital Peter Kyle afirma que a parceria trará empregos qualificados, impulsionará investimentos em infraestrutura e dará ao país influência sobre o avanço da tecnologia.
Sam Altman, por sua vez, considera que o Reino Unido possui tradição científica e foi um dos primeiros governos a delinear um plano nacional para IA. Segundo ele, o momento agora é de transformar ambição em execução prática.
O memorando prevê ainda a exploração de oportunidades de investimento direto em instalações de computação. A OpenAI estuda participar do financiamento e do desenvolvimento técnico desses projetos.
Com a assinatura, Reino Unido e OpenAI passam a integrar grupos de trabalho conjuntos. Eles devem detalhar, nos próximos meses, cronogramas, métricas de segurança e possíveis pilotos em serviços públicos.
Enquanto isso, o governo mantém aberto o diálogo com outras empresas do setor. A estratégia busca equilibrar inovação rápida com supervisão regulatória, tema central nas discussões globais sobre inteligência artificial.